3.2.14

Entre Parágrafos: Fabricando covardes e surpresas


Na sua primeira vez na escola, Amanda só consegue se lembrar de ter chorado e abraçado a mãe para que ela não a abandonasse lá. Desde o começo, já parecia adivinhar que aquele era um dos lugares mais assustadores do mundo para as pessoas que ainda estão passando por ele. Ou, talvez, algumas que já passaram mas nunca conseguiram superar. Ela tem curtas memórias dos amiguinhos. Lembra de um garoto loiro que achava bonito, deles assinando o gesso de quando ela caiu e fraturou o braço. Se lembra da professora que a ensinou a ler, escrever e contar. Antes, se sentia o máximo por saber contar até 50.

Alguns anos se passaram, a tal garota era fã de Rebelde, mais especificadamente da Mia e vivia com uma estrela na testa e tinha tudo rosa. Era rodeada de amigas e fazia parte do grupinho dos "legais", dos populares. Daqueles que faziam qualquer coisa para se sentirem superiores, mesmo que isso custasse as lágrimas de alguém. 

Com o passar do tempo, Amanda deixou pra trás as estrelas, as coisas rosa e até mesmo as amigas. Se tudo na vida é líquido, nós sabemos que essas amizades são ainda mais. Ela deixou trancado na caixa junto as outras coisas a vontade de passar por cima dos outros também.

Um pouco mais velha, a menina descobriu que no ensino médio as coisas conseguem ser ainda piores. Antes as briguinhas eram coisas bobas que passavam logo depois, no entanto parece que depois de crescidas as pessoas se atacam cada vez mais. Antes a briga era para saber quem tinha mais canetas coloridas com glitter, agora é para chamar atenção do garoto. E garotas fazem qualquer coisa para isso.

O colégio sempre pareceu uma pirâmide, onde os alunos só sabem querer subir até chegar o topo. Bem embaixo, estão os estranhos, os tímidos, os nerds - a habilidade de se dar bem nas provas passa longe da Amanda. Depois, vem os garotos bonitos e populares e as garotas bonitas e populares que, na maioria, fazem tudo para atrair a atenção um do outro, mesmo machucar os que não conseguem se misturar com eles por algum motivo qualquer. 

A Amanda  sempre se sentiu de fora de todos os grupos. Com poucos amigos, ela gostava mais de ler um livro do que ter que conviver com aqueles que pareciam a odiar mesmo sem nenhum motivo. Apesar de dizer não precisar deles, ela não entendia o motivo de não conseguir se enturmar só por ter gostos e pensamentos diferentes. 

Mais um ano letivo está começando, o último, e a garota está assustada como nunca. Todos os seus amigos não estudarão mais junto a ela. Colocará o seu material escolar na mochila e irá para o colégio sem saber ao certo se irá fracassar em se encaixar ou se fará amizades que levará para o resto da vida. Ela só quer poder sorrir para algumas pessoas que retribuirão seu sorriso, tirar boas notas e conseguir se formar.

Uma vez a disseram que o colégio é uma fábrica de pessoas covardes. Mas, apesar de tudo, cada diz traz uma nova surpresa, nem que seja a falta de um professor que dará uma aula chata. Amanhã ela pode receber um teste surpresa que ferrará toda a turma ou, quem sabe, tirar a melhor nota da sua vida. 

Um comentário :

  1. Indecisões, o grande mal da humanidade! Bom, nunca sabemos o que o futuro nos reserva e não fala de algo muito distante, não sabemos nada nem mesmo sobre o próximo segundo. O jeito é encarar tudo da melhor maneira possível. Acho que no fundo até o mais covarde tem em si um pouco de coragem que o faz seguir em frente!

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